segunda-feira, 26 de março de 2012

Um jogo de posse e acesso.


 Em um mundo em que o compartilhamento de informações e conteúdo já não tem limites praticamente, por que não compartilhar alguns bens ao invés de possuí-los? Em seu artigo “Melhor que possuir”, Kevin Kelly apresenta seu pensamento a respeito de um futuro próximo sobre os bens que, hoje em dia, possuímos.
            Em seu artigo, Kevin se apropria da maneira de se pensar na internet, para analisar o conceito de posse e colocar em questão o fato de termos a necessidade de possuirmos algo. Se, hoje em dia já temos infinitas possibilidades de “empréstimos” on-line, desde o aluguel de um filme ou livro, até barcos e carros, pode-se refletir que o nosso senso de propriedade está se tornando mais flexível, de maneira que nossa necessidade de possuir algo, está cada vez menor. Desta forma, estamos nos adaptando em fazer aluguéis, não mais em possuir coisas, pois desta forma, utilizaríamos determinados bens apenas pelo tempo que acharmos necessário.
            Podemos pensar que esta possibilidade de alugar os bens ao invés de compra-los, é uma facilidade para consumidores compulsivos, que compram tudo pelo simples prazer de comprar. Ou então por achar que quer muito algo e ao comprar perceber que não havia necessidade, mas a simples vontade de comprar ou possuir. Um dos grandes problemas da sociedade de consumo hoje em dia, a compra compulsiva, poderia encontrar nesta nova fórmula de compra seu remédio, pois ao invés de comprar, essas pessoas alugariam por determinado tempo para satisfazer sua vontade para com aquele bem de consumo. Além disso, a internet propiciaria uma infinidade de possibilidades e produtos para todos, destacando assim, como diz Kevin, a importância do acesso e não da posse em si.
            Pensando assim, em uma visão otimista e livre de um olhar crítico, todos teriam acesso, assim como na internet, para alugarem o que quiserem, a qualquer hora e por qualquer tempo. Mas não podemos nos deixar enganar, pois o simples fato de alugar e não comprar não irá baratear as coisas, apenas alterar o tempo que a pessoa utilizará aquele produto. Portanto, não podemos cair na utopia de que estamos tornando o mundo mais igualitário e acessível à todos. As pessoas poderão alugar barcos, carros, bolsas e os infinitos produtos disponibilizados em um mundo virtual praticamente infinito? Sim, desde que tenham o capital necessário para adquirir aquele aluguel. Agora, se algumas pessoas já se endividam um longo tempo para terem alguns artigos de luxo, os inúmeros aluguéis disponíveis, influenciados pelo bombardeio da mídia para movimentar esta possível nova forma de “consumo”, serão apenas mais uma dívida na listinha pendurada na geladeira.
            Em minha opinião pessoal, creio que essa possível nova estrutura do consumismo apenas expõe a fragilidade do pensamento da sociedade de consumo que vivemos, que em grande maioria, resume-se em “aparecer” e não “ser”. Esta é apenas mais uma das inúmeras diretrizes que o capitalismo pode dar para o consumo e desta forma aumenta-lo e fazer o capital girar de uma nova maneira. Não será a partir de uma nova idealização do Capitalismo que conseguiremos tornar acessível a todos, os bens de consumo apontados como “necessários”. Algumas pessoas parecem estar mais preocupadas em parecer alguém para o mundo do que ser alguém para este mundo. Sendo assim, devemos colocar os conceitos de posse e acesso em uma balança em busca de um equilíbrio, ao invés de depositar todo o peso de um lado só, esquecendo que no meio dos dois conceitos, existe um “medidor” chamado capital, que irá possibilitar ou não qualquer uma das duas ações. Acessar pode ser melhor do que possuir, mas nunca melhor do que o equilíbrio entre ambas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário