Olá pessoal do Perspectiva M!
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Vilém Flüsser |
Neste
post, discutiremos brevemente o que seria a filosofia da fotografia e qual a
sua finalidade. Para isso, nos basearemos no texto “A urgência de uma filosofia
da fotografia” de Vilém Flüsser, em que o autor nos expõe a necessidade de uma
filosofia da fotografia que se sustentaria a partir de quatro conceitos-chave: imagem,
aparelho, programa e informação.
Primeiramente, Flüsser coloca a fotografia no chão da
circularidade, pois todos os conceitos-chave não trabalham com o pensamento
causal e linear, basta pensarmos nas imagens, que “são superfícies sobre as
quais circula o olhar”, ou seja, olhamos diversas vezes a imagem para
entendê-la e reparar em cada detalhe, mas não saímos desse plano da imagem, é
como se ficássemos presos às molduras que deveriam “prender” apenas a imagem.
Como diz Flüsser, “Situações improváveis surgem ao acaso, de vez em quando. Mas
retornarão, necessariamente, para a tendência, rumo à probabilidade”, ou seja,
quando algo novo surge, podemos ficar chocados e surpresos em um primeiro
momento, por ser algo que nosso olhar/pensamento ainda não estava acostumado,
mas com o passar do tempo e a repetição contínua dessa “novidade”, aquilo não
mais confronta com nosso olhar, pois nos acostumamos, tornando-se assim algo
supérfluo e comum. Quando a fotografia surgiu, tudo era inovador, porém, com
sua grande reprodução, foram-se criando modelos que hoje em dia estão
cristalizados no inconsciente de cada um, por exemplo, quando vamos tirar uma
foto em família, todos nos abraçamos e sorrimos para demonstrar união e
alegria, ou seja, fazemos isso inconscientemente, mas comprovamos a
cristalização de um modelo fotográfico.
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Modelos fotográficos estão
cristalizados no inconsciente do Homem como ,por exemplo, uma foto em
família com todos unidos e sorrindo,demonstrando alegria. |
Nos
dias de hoje é ainda mais difícil encontrarmos situações improváveis, e quando
encontradas, ao acaso, são sedimentadas muito mais rápido devido à imensa
reprodutibilidade técnica, que faz com que tudo caia no comum e óbvio, ou seja,
na circularidade de um sistema.
Por
nos basearmos nesses modelos e aparelhos como forma de ver o mundo e pensá-lo,
chegamos ao ponto de “pensar” como computadores, de maneira óbvia e circular.
Para Flüsser uma filosofia da fotografia deveria, não se utilizar da máquina em
si para ver o mundo, mas ter a finalidade de uma “Crítica do funcionalismo”. O
autor demonstra que essa filosofia deveria repensar a questão da liberdade, de
modo a pensar: “se tudo é produto do acaso cego, e se tudo leva necessariamente
a nada, onde há espaço para a liberdade?” Ninguém melhor para responder essa
questão do que as próprias pessoas que vivem esse totalitarismo dos aparelhos
em miniatura, agentes desse “setor terciário”, assim chamado por Flüsser, em
que o importante não é a fotografia em si, mas o jogo de símbolos e informações
colocadas em cada imagem, os fotógrafos. Dessa maneira, esses se dizem livres e
“protótipos do novo homem”, pois, teoricamente, não estão fixos à esses modelos
da fotografia, têm o livre direito de selecionar e organizar como quiserem a
informação de cada imagem. O autor então, nos propõe que, para ter liberdade
com as máquinas precisamos “jogar contra o aparelho”, ou seja, temos que ir
contra os padrões já estipulados pelo mecanismo, e inverter uma situação que
muitos de nós não percebem: dominar as máquinas ao invés de ser dominados.
Dessa
forma, o que pretende-se com uma filosofia da fotografia, seria tornar este ato
algo conscientizado, para que não sejamos reféns dos modelos que nos são
impostos e possamos clarear a caixa preta das máquinas. Ou seja, que entendemos
seu real funcionamento e que esteja esse ao nosso dispor, e não o inverso, pois
sem ela, como diz Flüsser: “... jamais captaremos as aberturas para a liberdade
na vida do funcionário dos aparelhos”. Devemos, portanto, refletir sobre as
possibilidades de ser livre em um mundo dominado pelos aparelhos, sendo guiados
por uma filosofia da fotografia.